quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A segunda metade,o fim e janela vaga...

E com a saudade morta ,vida curta teria,mas era suficiente pra reviver o sonho dentro da realidade...
Ele estava no exato oposto, trinta metros,linha reta,colado na pick up num movimento cambaleante de sorriso torto e cabelos molhados de tanto dançar.Estava sozinho e do alto dos teus 1,94 eu tinha a certeza que lá de cima ele procurava ...Nossos olhares se cruzaram e se viram sem agente demonstrar que nos vimos e eu continuei no alto do palco,no exato oposto,na direção da lança do cupido ,ali,tremulo,sorriso colocado e uma vontade extraterrena de abraça-lo e dizer as coisas que antes estavam presas pela lucidez.O álcool já havia me levado pro ridículo e removido toda minha resistência...
Foi quando percebi que ele deu a volta na pista e veio de encontro ,arrisquei um tchau fora de compasso pra sinalizar ,ele piscou e abaixou a cabeça numa condolencia gentil,eu retribuí.Agora éramos nós dois no palco,mais ninguém,abraçados e conscientes da nobreza de cada segundo e tudo girava porque nós dois abraçados fomos levados pro extase e ficávamos em silencio lendo a linguagem da ponta dos dedos e dos abraços e das respirações e dos olhares e das expressões de NOSSA-EU -TE-QUERIA-TANTO-SE-NÃO-FOSSE-ESSA-MALDITA-GEOGRAFIA...TANTO...
Enquanto os corpos sem rosto dançavam e se exibiam nas roupas e nos gestos e nas bebidas,já estavamos colados numa simbiose ,osmose sei lá.Ele sentado e eu de pé com os dedos passando pelo teu cabelo e as pernas entrelaçadas e beijos de nirvana...E como mágica no mesmo instante respiramos fundo e em silêncio concordamos : sim,vamos embora agora...Agora? Sim,agora.
Táxi rápido,elevador rápido,fechadura mais ainda,meu quarto,camas de solteiro virando casal,deitados,agressões pra tirarmos a roupa,os pés brigando pra retirar as meias um do outro,as cuecas ,tudo,pronto,nús,ali parados e desaceleramos...
A linguagem soberana da epiderme, a sintonia das almas,a entrega completa do sexo ,os beijos segurando a cabeça do outro com as duas mãos e puxando forte e dizendo da falta ,da saudade,a força,a delicadeza,o ato selvagem,visceral,testosteronico,forte,ritmado ,aceleração pro gozo...
Eu nunca tinha ido pro lugar daquela sensação,era a certeza do amor com a figura da
morte escondida por trás...Dormimos abraçados,molhados,evaporando juntos ...
Já era manhã,antes do banho ele ficou sentado e nos olhamos desgrenhados durante minutos,nos despedindo leves,libertos das dores e conscientes ...A cama vazia,de novo os dedos no lençol querendo prender aquela situação,ficarmos ali,ridículos ,romanticos,alienigenas...
A porta do banheiro se abre,os vapores se invertem e simbolicamente tudo foi lavado.Nos despedimos sem dramas,sem promessas,cada um de volta pros seus mundos distantes , rotinas estupidamente diferentes e aquela sensação de viver um grande amor mesmo que só por uma noite...Mesmo que de novo quem sabe um dia...Mesmo que pra nunca mais...A única certeza somos nós,fomos ou seremos nós.Cambaleantes e trôpegos ,reféns voluntários onde o preço do resgate é a possibilidade do reencontro...

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Primeira metade do único dia depois de tanto tempo!

E o amor nos ascende numa atmosfera defensiva e tão deliciosa que já faz parte o melindre,o simulacro,as pernas afastadas,nenhum toque,apenas a minha visão paralela te vendo com olhos de águia e depois vendo a tua como presa-predador não sei.
É um amor inventado ,mantido,guardado no fundo abissal que ora vem pra supeficie como luz: rápido,claro,etéreo e denso ao mesmo tempo.
Mantemos nossos limites e conversamos sobre o que aconteceu nesse tempo em que ficamos longe sem nos preocuparmos com outros corpos ,sexos tortos, caminhos perigosos do mundo .A janela maldita existe e seria mais uma vez tolo e mentiroso se dissesse que não temo isso.
O café termina e descemos pro aniversário de tua amiga- meio -namorada,aquela que você disse tão lindo que a beija vez em quando pra simular ou se livrar dos encostos .Eu crio coragem e chego estrangeiro no baixo meretrício ,me sento à mesa e converso simpaticamente com pessoas opacas protegidas da chuva pelo teto de palha ,ouvidos recebendo mpb desafinada e nós dois na métrica dos olhares .Seu telefone toca e eu saio pro cigarro no espaço recluso como eu.Me despeço,os olhares disseram pelo brilho- congelado que aquela noite seria nossa...E no teu abraço eu fiquei,queria te dizer da falta que sinto,mas os trinta segundos de duraçõa disseram tudo.Ficamos ali na chuva translúcida,coloridos,opacidades ao fundo,verde das plantas e escuridão do céu velando nossas diferentes alturas , nuvens de nicotina ,degraus de cimento,saudade morta!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Vinho e depois saudade

O chocolate amargo é tão maciço quanto o que guardo de você aqui dentro.
O mais ou menos doce também reflete a situação em que te guardei e fui obrigado,pela distancia,te deixar num latente esquecimento surdo e entenda:sonoramente- surdo- presente!
Não consigo deixar de pensar em você quando numa segunda chuvosa e melancólica como essa,sentado em frente ao computador com o vento assobiando e soprando gelado pela janela,saber que ainda te guardo aqui da maneira mais tola e romantica possivel!
Todo mundo anda mudado e eu não sinto o mesmo,ainda me sinto preso nas nossas músicas e naquela segunda iluminada onde debaixo de chuva reservei um quarto de hotel pra te ter trêmulo perto de mim...
A linguagem dos corpos solta e eu te descobrindo pela primeira vez com a certeza do furo temporal histórico velando agente naquela cama minúscula e você 1,94 !!
Ainda te guardo e eu sei que sou ridículo,eu sei que exagero nos adjetivos e na maneira intensa de te querer. Eu sei que nossos caminhos são amplamente e rotineiramente separados,mas não quero e não posso te deixar cair no esquecimento pra depois de oito anos te encontrar e cantar uma valsa plagiando o filme antes do por -do -sol...
Eu me sinto ridículo,RIDÍCULO mil vezes e com aquela sensação de vulnerabilidade pela alma entregue e nua,querendo teu abraço doce nessa noite fria,teu beijo quente e aquela sensação de conforto ,o edredon azul...
O dia amanhecendo frio e eu acordando as sete pra voltar pro hotel,descendo teu elevador com a vizinha esquizofrenica reclamando da vida e das contas...Eu subo a ladeira pra rua Lins e pego o primeiro taxi te levando dentro de mim e compartilhando alguns momentos sonhados como nós dois na aclimação num domingo preguiçoso!
Eu te queria,eu te quero,te queria e sinceramente : me encontro numa atmosfera covarde ,pois a nuvem da realidade separatista é densa e escura,preciso de te enxergar ,cuidar de você ,te ver ácido e ironico,leve e doce,com os cabelos molhados te trazendo pra cama do hotel.Com o frio lá de fora ainda preso na ponta dos teus dedos ...
Eu não sei o que fazer contigo,eu não sei te deixar porque você me pesa e me puxa pra sintonia mental mais refinada que já tive.Te fazer o mais lindo e o mais desejado..
Eu queria tanto
Tanto...
Tanto meu querido e doce..
Meu preguiçoso de sorriso torto e olhos fechados enxergando tudo,tua pele e teu abraço magnetismo...
Os polvos,as Nortenas ,o cinema ,linklater,little joy e Nara
Mas ainda sei
Ainda sinto
Ou será que estou novamente vítima do amor que me escapole ...
Eu não sei ,não sei,ainda é latejante ...
Um beijo do seu

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Expurgo da lamúria

Sem medo de nada,sem medo de me parecer ridículo ou solitário,melancólico ou depressivo ou num desses diagnósticos tabajaras que os leitores de auto ajuda soltam de maneira displicente,apenas pelo prazer em julgar sem propriedade o que acham do outro...As vezes por leviandade,puxar assunto e ter o que dizer,ou maldade ,ou inveja,ou simplesmente uma síndrome equivocada de psicólogo- psicanalista de revista!
A verdade é que ando muito estranho,com um sentimento disforme e sem saber o que é.Na verdade ,no fundo,lá na essencia etérea do sentimento,sinto que é algo bom,minhas nostalgias peculiares que me deixam inquieto.
Hoje a tarde larguei tudo como num surto pra me encapsular,ficar perto de mim e me dar um tempo pra processar esse nó,essa angustia leve,essa inquietação que tem me tirado o poder de realizar tarefas básicas como manter minhas coisas organizadas.
É como se eu tivesse chegado no fim...Não no fim da vida ,mas no fim de uma etapa duma grande construção .Isso tem me causado uma auto relutancia.Sim ,estou só. Sim, acompanhado da minha consciencia intensa e que as vezes me pesa o corpo ,a barba cresce e alimento ela durante uma semana.
Cheguei em casa fugitivo com o sol das quatro esfriando,concatenadamente fui tirando a roupa e abri todas as janelas,acendi um cigarro. Com as pimenteiras aos meus pés e mergulhado nos meus desejos,desejei fugir pra Bahia,morar num vilarejo digno e decente ,viver descalço entre as redes ,a maresia ,as palmeiras e os artesanatos decorando o chão de madeira da sala escura pelo sol que arde do lado de fora,misturado ao branco da areia que cega .Pronto: sou mais uma vítima do cansaço que a vida moderna e suas consequencias nos impõe: estrangulando as horas e nos enchendo de compromissos onde as vinte e quatro horas já não parecem dia e sim pedaços onde sempre fica um pouquinho pro amanhã;uma procrastinação constante e crescente,bola de neve de fogo e de rotinas pesadas...
Mas não quero vomitar apenas lamúrias melancólicas e nem imprimir um tom doentio nas minhas palavras,já me sinto leve e consciente do fardo que carrego...
Vou cantar pra subir,cantar no desafino que me deixa triste ,pois queria tanto gozar minhas dores num palco afetuoso com amigos...Luz baixa,drama,teatro ,olhar profundo e uma música de doer e de sorrir,cantar a vida e as pessoas que amei,cantar o samba,os devaneios,as paixões...Voltar pra casa lerdo e manso,saciado pela coragem e satisfação de cantar .Sinto como se as vezes,algum desses cantores(ou cantoras) do rádio,do baixo meretrício e das paixões platonicas e reais ,ficam irradiando suas vontades no meu campo magnético.Obviamente não sinto como se fosse obssessão ou perseguição espiritual,mas sim uma afinidade,ou talvez alimentando a coragem pra eu fazer uma aulinha de canto nas horas vagas do próximo ano.
Bem,é hora de seguir o bonde,melhor entrar,pegar a direção e eu mesmo trilhar esse caminho sem lugar pra chegar,parar nas estações ,aspirar os ares frescos das paisagens,aproveitar cada geografia ...
E como disse muito bem Dulce Veiga (trecho do livro Onde andará Dulce Veiga,Caio F.) :
''- Diga o que você quiser, faça o que vc quiser. Não diga nada se achar melhor. Minta , não será pecado. Mas se contar tudo, não se esqueça de dizer que sou feliz aqui. Longe de tudo, perto do meu canto."

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Viagem ao centro da boca

Era um sonho bom,daqueles que agente fica lerdo e manso,daqueles onde agente sente cheiro e a atmosfera é insuportavelmente leve ,diria que muito lúdica até.
De repente ,eu me transformei num ser minúsculo ,beirando a insignificancia da escala das formigas...Eu tinha o disfarce perfeito e logicamente me instalei dentro da tua boca...
Fiquei lá atrás,pendurado na cúspide do seu terceiro molar,como um curioso que espia sua vítima com o prazer dos voyeurs...E logo vc acordou,teu bocejo tinha um cheiro acre e quase me expulsou de lá de dentro,meus cabelos pareciam chicotear e o som grave e preguiçoso que ecoou garganta afora me deixou surdo,tive forças pra me esconder melhor,ali logo atrás do ciso...Me senti seguro e continuei ...Logo vc começou a cantar Nara Leão : Dizia que foi por aí, cantava algo sobre barquinhos e além do horizonte existe um lugar...A escova de dentes entrou como um monstro cabeludo cheio de espuma branca e o som era seco e ensurdecedor,queria sair dali,mas logo tudo ficou fresco ,eucalipto,vento gelado.
De dentro do escuro eu avistava o clarão exterior,enxergava teu espelho e teu rosto no reflexo,estava mais bonito do que quando te conheci...Nessa hora eu torcia pra que vc ficasse mais de boca aberta e sair da frente do espelho me deixou triste...
Quando fui me dando conta da loucura e da invasão que estava cometendo,já era tarde demais...O café quente entrou ,depois era croissant e depois suco de laranja e depois um bochecho daqueles ardidos ...Eu queria sair dali e vc começou a falar e falar e falar...
Vc começou a falar de nós dois sozinho,murmurando de dor e aflição e de como isso te doía,de como o não me ter te causava dor e sentimento de incapacidade.Vc dormiu aquele cochilo da sesta e lentamente eu escalei até conseguir me retirar.Agarrei num pelo do teu bigode e te dei o último beijo .
Nessa hora ,minha pequenez consciente me fez perceber que já tinha ido longe demais,me arriscado demais e feito e esperado coisas que feriam minha dignidade.
Selei minha despedida nessa hora,carimbei com frieza toda grandeza do que gerei por você.
E da tua boca eu ouvi : Que seja doce, que seja doce, que seja doce, que seja doce, que seja doce, que seja doce, que seja doce!!!
E desse sonho,acordei com a minha realidade pronta e percorrida nos teus tão açucares e amargos caminhos...
E agora a lembrança do gosto apenas... Aquele gosto que nunca mais irei sentir...Talvez ,numa tarde fria e depois de um café eu emende um sonho de valsa pra te compor e viajar nas lembranças de um grande amor que não vivi...

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O nascimento de Jezebel

Quando sou abatido pela falta de inspiração é como se fosse a falta da locomoção e naturalmente a sensação de não enxergar habita pesadamente.Ontem deitado na cama estava assim,inerte em meio as várias coisas que poderia fazer,assistir ao filme que ensaio colocar no dvd há um mês,ou continuar a ler Caio F.que tem me dado muito gosto,mas estava sim, com o sentimento de paralização pela pausa que meu cérebro-alma resolveu impor.
O soco seco na alma silenciosa começou a me levar pra algum lugar desconhecido e sabia que de repente começaria a pensar em coisas que me fariam experimentar algo novo...Foi quando resolvi utilizar o que tinha no momento.Tinha o teto do quarto ,comecei a olhar parado num torpor efusivo pro ventilador parado. Comecei a perceber que várias coisas habitam o teto do quarto,nossos sonhos e nossos desejos... De repente Jezebel apareceu.
Uma companhia imaginária,Jezebel é uma ornitorrinca falante que me veio como presente do mundo de lá.Sabe quando somos presenteados com um bichinho de estimação e temos que nos virar pra adequá-lo a nossa rotina? Pois é,Jezebel veio assim ,como mais um presente nas minhas construções mentais.O momento foi tão prazeroso que esse bicho habitará minha casa e me fará companheiro dela.Parece loucura,mas tenho prazer em descobrir pelo etéreo coisas que ganham densidade dessa forma.
Jezebel já estava holografada do meu lado e o teto do quarto como uma tela touch screen pra eu escolher o que acessar. Com o foco do olhar acessei perto da janela o assunto -AMIZADE- e me dei conta mais uma vez da importância que isso tem na minha vida.Não falo das construções mesquinhas ,falo do crescimento ganhando corpo,da confiança conquistada e do conforto em poder contar com uma pessoa que a qualquer momento está pronta pra ouvir suas lamentações ou dividir as mais sublimes alegrias.
Pensei em alguns amigos queridos e isso me deu sensação de riqueza, satisfação em perceber o amparo alheio nessa fase de mudança drástica e muitas interrogações que venho passando.
Analisei cada relação com esses afetos e em cada um ,o gosto era diferente;nem melhor nem pior,apenas diferente...É bom também perceber que a diferença entre cada um deles cria um espectro colorido de saciedade e orgulho.
MEUS AMIGOS QUERIDOS, a voces o meu dizer indireto que os amo .Perdoem as chatices e a fase melodramática que descobri não querer sair nunca mais. Jezebel aparecerá sem perceber,darei notícias quando ela se juntar a nós e como um ser falante que é,traduzirei o que ela quiser dizer sem distorções .Acho que o vinho ,o violão,São Paulo,o inglês ,as panquecas,a geriatria, os engates e os Tocatinenses terão acesso fácil .O único problema ainda sou eu,meio sem saber o que fazer com essa ornitorrinca ...Espero que ela já esteja adestrada...

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Ao som de Louis Armstrong - What a wonderful world-

Ainda me lembro da Rua Ipameri ,começava na frente da grande porta da Igreja da Matriz ,onde a atmosfera religiosa fervilhava de segunda a segunda.Carrinhos de pipoca,algodão doce e a meninada do Colégio Santa Clara de camiseta bege e calça verde musgo.Eu sempre saía da missa das crianças dominicais e ia direto pra casa dos meus avós,bastava descer os degraus da entrada e já estava lá,na Rua-Mais -Saudosa -E -Protetora.Eu me lembro: era tanto carinho,eram tantos cheiros ,o portão enferrujado com o longo corredor a frente ,muro molhado onde eu sempre passava a mão e depois olhava pra terra nas pontas dos dedos ,do lado esquerdo a enorme mangueira cuja copa cobria todo o quintal da frente da casa de vovó.A casinha de madeira azul da preta ficava exatamente colada no tronco da mangueira e toda vez que eu entrava ela vinha me lambendo e batendo aquele rabo que soltava os pelos tipicos dos pastores alemães.
Algumas vezes eu evitava abrir o portão baixinho e pulava o muro cheio de lodo e prestava toda atenção do mundo pra não bater com os dentes nas pedras de pirenópolis que antecipava o alpendre retangular cheio de samambaias e chão vermelho batido obssessivamente encerado...
A porta era de vidro caroquento com alguns arabescos soltos e uniformemente distribuídos .Já na sala ,Dona Marta vinha com os dois braços abertos como numa dança pra me abraçar e me apertava sempre forte dando aquela cheirada sonora na nuca pra demonstrar o afeto com mais intensidade.Eu sentia e ainda tenho o cheirinho dela comigo.Meu avô Mané Branco com seus 1,90 de altura,cabelos brancos espetados e olhos azuis quase cinza sempre sentado lendo jornal, o óculos de massa meio caído me esperava ritualisticamente pra recitar seus poemas: "Morena por ser morena tanta graça que tem,que as brancas sentem pena de não ser morena tambem",eu repetia duas ,tres vezes ate acertar e ele me dava mais abraços como premio pelo acerto da rima.No corredor do fundo tinha o André,um papagaio locutor que me deixava encucado porque ele nunca errava os poemas que meu avo recitava...Isso me dava insistencia pra me igualar a ele,imagine um papagaio?
E sempre ,quando abria a geladeira ,as gelatinas coloridas em cubinhos mergulhadas na outra que tinha leite condensado .Todas nas tigelinhas marinex num ambar como cor.O bicho papão morava atrás da cortina da sala .Eu sempre evitava abri-la,mas não tinha medo,era como se eu soubesse que ele não ousaria aparecer pela força e proteção dos meus avós.
Hoje eu quase nao vejo minha avó,me sinto culpado pela renuncia ,sei que ela precisava muito da presença constante e ter o minimo de retribuição ao amor e doação impagável de ternura e cuidado que ela me deu.
Meu avô ,tempos atrás veio me encontrar num sonho realidade vestido com uma camisa de tergal azul ,primeiramente foi o cheiro que me fez o conhecer e depois me disse aquelas coisas que definem o amor,aqueles conselhos e aquelas motivações lúdicas e cheias de sabedoria...
Dessas impressões,fica uma saudade grata e uma consciencia de estar fazendo pouco por ela .E hoje eu reclamei tanto esperando dos outros...

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Prelúdio de uma não despedida

Me sinto paradoxo,tantas janelas abertas ...Algumas o vento chega e entra redemoinho,outras aquela sequidão morta do lado de fora me dando a certeza que já passou e não há mais vida do outro lado,mesmo avistando toda a paisagem verde que respira.As fechadas são poucas,não sou muito competente em ignorar e simplesmente fecha-las..Gosto de ter o gosto em processar minhas experiencias,mas existem sim...Aquelas onde todo mundo nega até pra si mesmo e nem Deus seria um bom cumplice!
Mas hoje quero dizer de uma janela que nunca se fechará,até porque existe um transito livre e eterno da paisagem externa com o interior da minha casa coração...Dentro das metáforas cheias de significados ,fica o meu sentimento terno pros vizinhos irmãos que co-habitam de uma maneira tão doce e elevada,tão nobre e tão imensa de grandeza ,tão civilizada a ponto de gerar a incompreensão alheia...
Eu saio da mesma casa e a janela apenas migra fisicamente.Poderia pensar que foi tudo um sonho,mas a unicidade é tão visceral e pungente que a realidade tem um gosto melhor...O pequeno distanciamento físico,me dará a experiencia de colocar identidade do meu lado de cá e encher de afeto o meu lar...O vento levará apenas alguns segundos pra entrar e não caberia dessa forma o luto antecipado que venho sentindo...Estarei sempre na soleira se preciso for até ferir os cotovelos,terá potes de flores e aqueles barulhinhos que tilintam em reação ao mais sutil movimento...O cheiro de café coado no bule que é pra dar a sensação do saudosismo e aquela paz que agente tem em casa quando adormecemos com prazer.Pé descalço no tapete felpudo.
A vocês,minhas lágrimas solitárias com aquela ardencia que toma o nariz e ruboriza a ponta dele .A vocês minha eterna gratidão ,o meu afeto,a minha amizade tão prazerosa e cheia de orgulho e de força. O meu não Adeus e sim o meu até daqui a pouco .
A nós,todo sucesso que merecemos ,que venham as festas e os amigos queridos...Que voltem as risadas frouxas,o violão embalado do coro desafinado.Que venha nosso trabalho ,nossas lutas e nossas construções.
Estamos aqui pra experimentar,que bom essa coragem lúcida sem venda nos olhos.O sopro da vida é muito curto ,uma ponte entre dois supostos nadas,façamos o inusitado,arrisquemos sabendo que se o arrependimento aparecer não haverá culpas.Haverá sim,lembranças,histórias,momentos mágicos,risadas,bobagens, construção de intimidades e uma certeza tão forte e brutal,tão incisiva e palpável...Certeza de que somos e seremos privilegiados por nossa coragem e coerencia de sentimento compartilhado!!
A vocês dois meu abraço apertado e protetor.A vocês dois o obrigado por me fazerem descobrir um novo sentimento e crescer como pessoa .O orgulho de tê-los por perto e sempre ,mesmo voces avistando a janela fechada;creiam: é porque fazia frio ,verão pelas frestas a luz acesa e basta um leve empurrão ...Acordarei de sopetão com o som do roçar da madeira pronto pra ouvir e contar histórias ,seja no clarão do dia ou no silêncio escuro das madrugadas...
Salve!!!
Salve!!!
Salve!!!

sábado, 25 de julho de 2009

Sobre o objeto e sua construção

Decepção pra quem sente e destila o rancor pela traição é uma cravejada permanente na alma dos românticos...
Vou me calar e parar com essa coisa de moldes comportamentais,vou guardar os meus moldes e ficar lá detrás dos brilhos dos meus olhos farejando sem ir a caça,percebendo a pista pra afinidade,esperando com o coração superlativo,insone disfarçado de sonolento; comigo...
Perdoarei os larápios- vampiros sentimentais sem respeito e limite no trato afetivo,deixarei leve até sumir o rancor ,não vibrarei nada,não falarei mais nada,nenhum gesto,nenhum sinal .
Não quero direcionar vetores perpendiculares e etéreos de raiva no meio da testa de cada um,não quero o ônus de ser provedor de energia ruim pra ninguém,da próxima vez que sentir raiva pensarei apenas em um objeto planejado pra absorver coisa ruim,talvez uma tecitura emaranhada de aço onde cada direcionamento meu se transforme em algo que a enfeite ...
Espero que dessa vida ,quando me despedir daqui ,eu olhe pra trás e veja a tecitura como algo humano,eu sem arrependimento e ela pouco enfeitada,super discreta,meio vazada ainda,como se faltasse enfeite pra gerar harmonia ,tipo fantasia de escola de samba rebaixada, tipo gente pelada,tipo brigadeiro sem granulado,sopa aguada,mexerica sem graça,sem sal...
E talvez aí, eu encontre um exemplo pra justificar o desejo de fazer uma obra grosseira e mal acabada...Transitar nas imperfeições me gera um misto de experiência e prazer!!!

domingo, 19 de julho de 2009

Texto chato e que me fará sentir um ridículo frágil

Nos últimos meses tenho sentido o efeito físico como um peso e uma rédea curta e apertada da palavra preguiça...
O que me alivia ,é minha luta árdua contra as consequencias dela...Os horários estão difíceis,as responsabilidades aumentam,eu me isolo e busco forças lá nos abismos do meu estoque mental pra não ceder e segurar o rojão!!
Entrar nessa atmosfera pessimista e assumir as fragilidades me deixa muito,mas muito desconfortável e vulnerável.Vou ter a dignidade de não me enganar e não fingir que nada acontece!
Ter a consciencia do quadro instalado e efetivar ações que me impulsionem novamente e façam as coisas andarem com organização será minha busca e meu objetivo pra essa semana.
Quando era mais novo,tinha um equilíbrio entre racional e emocional melhor...Porque será que ando retrocedendo com o avançar da idade?
Porque minha sensibilidade anda pulsante e pálpavel, a ponto de me tirar o eixo como verter lágrimas por causa de melodias bonitas e vento batendo no meu rosto?
Porque a saudade vem tão devastadora ?
Porque me sinto tão só nesses dias difíceis?
Na verdade eu sei a resposta de tudo isso,mas existe uma lacuna pra espera,uma fresta onde eu espero entrar o novo ar iluminado focando meus olhos e me fazendo fechá-los como na fotobia.Seria o começo do novo ciclo.Enquanto o sol ainda dorme,vou aproveitar o luar pela rachadura e me contentar com ele ...

terça-feira, 14 de julho de 2009

Direto pro seu coração















Eu sei que você está aqui perto,consigo me lembrar exatamente da sua face alegre e forte,daquelas que animam e contagiam qualquer ambiente onde chega...Os domingos ...Ah...,
Era nos domingos que o seu show acontecia...A comida repetidamente divina !!
-Sim Romilda ,está divina! O meu copo de coca cola com um pouco de gelo e no seu um pouquinho de rum escondido...A salada de atum era inesquecível,a bacalhoada virava festa,o feijão tropeiro sempre o melhor, a costela de porco assada desmanchava em elogios na boca de quem comia...
Depois aconteciam os shows...Na primeira fase quando você bebia um pouco,deixava Dona Lourdes enfurecida pelas performances onde sugeria tirar a roupa numa brincadeira deliciosa de assistir ...Um tom de humor só seu,daqueles humores ácidos e fortes onde a vestimenta corpo físico nos deixou há dois exatos anos...
Nesse momento é como se tua risada e o jeito alegre de ser,abrissem o furo no tempo. A saudade habita pesadamente e sua falta é visceral,como se a espinha dorsal fosse removida deixando trôpegos todos nós!!
Vou me apegar no conceito do transitório e ter a certeza que logo nos encontraremos...
Ainda te vejo bater os dedinhos em volta dos olhos pra espantar as rugas e a mão na cintura desfilando como uma legítima miss,vejo tua vaidade tão verdadeiramente assumida e o mais lindo de tudo: Vejo o teu amor pela família... Tua resignação em prol dos que viveram próximos:tua mãe ,teu pai,seus irmãos e principalmente seus filhos- sobrinhos que eram motivos diários de elogios e doação de afeto gratuito...
Te deixo um beijo,as pontas dos dedos digitam palavras onde cada letra está imantada de saudade,amor e orgulho por tê-la conhecido e experimentado da sua existência tão querida!!
E nesse momento,onde quer que esteja,sentirá como uma brisa leve no teu cabelo minha vibração,terá o cheiro do seu perfume favorito,terá o som da música que gostava,terá a minha risada e meu abraço terno cheio de surpresas que te arrancavam caras de suspense pra adivinhar o que era...
Logo a palavra'' logo'' fará sentido e sentaremos pra sobremesa depois de uma mesa farta,um forro de renda branca segura o banquete...Frases decoradas em francês serão ditas por você e novamente cairemos na risada esperando os próximos convidados tão queridos ...Ainda é domingo!!

domingo, 12 de julho de 2009

Eu ,Simonal e os que amo








Fui assitir o documentário "Simonal" sozinho na sessão das sete de um domingo preguiçoso...A princípio fiz aquele exercício de paciência para suportar o estilo documental que não me agrada muito,mesmo sabendo da grandeza e importância do estilo!
Fiquei mais emputecido ainda com a hipocrisia e covardia do bicho homem vendo a história de vida de uma estrela nacional entrar na trajetória descendente e consequente ostracismo até culminar na morte aos 62 anos por cirrose hepática...Lastimável é saber que ainda se vê o julgamento infundado e conveniente por aí. Peço a Deus e imponho minha consciência a ter o discernimento e a vigília pra que eu não seja um desses covardes que se aproveitam da facilidade momentânea para julgar sem propriedade.
Saindo do cinema ,senti o peso e o fardo da responsabilidade mais presentes, como se fosse necessário me esforçar mais e garantir um patrimonio que me dê subsistência em casos onde ;como vítima legítima do engano,me tirassem a possibilidade de ganhar a moeda digna do meu trabalho!!
Dormirei imantando uma carapaça de proteção a todos que amo,blindados com escafandros no mar escuro ,onde os predadores quebrarão os dentes e a língua maldita sangrante será lavada com sal!!

quarta-feira, 8 de julho de 2009

O que vem depois de quinta

Lendo Caio Fernando Abreu ,percebi uma palavra constantemente usada e que me deixou curioso porque não sabia ,nem pelo contexto empregado ,o significado dela. Falo da palavra "sesta".
Depois de descobrir o que significava,tive uma sensação de alívio,posse vocabulária e uma extrema afinidade com a tal palavra recém chegada e logo,agregada eternamente !!!
Descobri que a nova descoberta era mais que isso,pois minha rotina a continha , meus planos e ideais de qualidade de vida ,também davam muita importância ao aproveitamento confortante que sinto ao desfrutá-la!! Hoje mesmo tive uma sesta ótima,aproveitei ao máximo e quase perdi a hora.Aliás, tenho aproveitado as minhas sestas ao máximo desde que comecei a trabalhar e quase sempre eu perco a hora,ou seja ,há dez anos tenho tido sestas necessárias e bem aproveitadas...Gostei tanto de saber que isso tem nome, que estou louco pra passar a próxima sexta com uma sesta honesta,só pra saber que o nome duplicará e ficarei repetindo...Sesta da sexta,sesta da sexta,sesta sonolenta da sexta,sestas sempre sonolentas nas sextas...
Ah,eu também já passei por isso e foi ótimo:
Já acordei ganhando uma cesta ,na hora da sesta sonolenta numa sexta...

terça-feira, 7 de julho de 2009

Vinho sagrado !!!

Ainda me lembro do desconforto que minhas patelas ficavam pra achar uma posição confortável no genuflexório...Levantava a cabeça depois de uma prece decorada e olhava todo domingo pro grande altar ,onde a cruz solitária e imponente dava o arremate decorativo cristão com padre André dizendo: " Tomai e bebei todos deste! Este é o sangue de Cristo que é dado por vós para a salvação da vida eterna ,Amém !!! "
O cálice dourado se levantava e lá dentro o precioso vinho escarlate era o veículo do rito ,logo a grande fila indiana se formava , olhos fechados e cabeças baixas com mãos receptivas me faziam admirar com um respeito inabalável a missa da igreja matriz!!!
Ontem bebi um vinho argentino fantástico,a safra era 2003 , paladar redondo e frutado com madeira.Descia goela abaixo sem a resistência habitual dos vinhos secos taninosos e por um momento, tive essas lembranças tão boas e importantes na minha formação religiosa que hoje em dia se complicou um pouco mais;não pela falta de fé,mas pelo questionamento da estrutura na qual se gera uma subserviência avessa a minha vontade!!
Questionamentos religiosos a parte, é bom perceber que bons amigos e um bom vinho me levaram automaticamente ao meu passado ,me fizeram experimentar sensações e vez ou outra me pegava como um enfeite na mesa,pois estava preso na memória fotográfica e roçava meu joelho como eu fazia quando terminava a genuflexão ...Entre risadas e assuntos íntimos, olhava pra cada um deles nas minhas caladas súbitas e percebia a importância que o vínculo afetivo tem na minha existência... E o vinho argentino à medida que chegava na temperatura ideal ,me dava mais prazer ,como se cada pegada na haste da taça bojuda levasse à minha boca ternas memórias,afeto e uma vontade de pedir outra garrafa ...Mas aí me lembrei da palavra mais essencial pra se manter a responsabilidade: MODERAÇÃO !!! Será que já estava ficando embriagado em plena segunda feira? Coloquei as duas mãos na mesa ,olhei pra cada um deles e como num encerramento ,sugeri: Fechemos a conta?
A concordancia coletiva gerou uma saciedade deliciosa e voltei pra casa manso,quase lerdo e na certeza de que comprarei do mesmo vinho cujas uvas foram cultivadas na vinícula das lhamas sagradas e misteriosas dos Andes Argentinos!!! Salve !!!

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Fotografia e fé



Novamente forçado a uma tarefa inicialmente impossível,recolhi,apanhei todos os resquícios de força e coragem e fui...Acordei as quatro da manhã e me lancei solitário na rodovia rumo a Trindade,fui escutando a melancolia de Los Hermanos e o coração ainda aflito,o corpo sentindo a falta e uma inquietação constante pela saudade que ainda me assombra.Uma cefaléia suportável e os olhos com a sensação de estarem crescidos pela lente de contato velha que ainda insisto em usar!!

Comecei a enxergar a movimentação e os vários pontos de luz não habituais ,como cìrculos desfocados que ora viravam dois,tudo meio cinematográfico ,a energia era artística e religiosa e isso me deixava animado pra enfrentar um dia completamente atípico!!

As pessoas brotavam dos becos e por todos os lados eu as avistava,todas indo pra igreja velha,numa reação coletiva pela fé,eram pessoas tristes e ainda encolhidas pelo frio que fazia!!

O som começa a ecoar junto com o amanhecer vermelho de nuvens em tiras...A ladainha ganha força e o aglomerado se forma rumo á missa campal no alto da Basílica,lá um altar e os sons dos pássaros e o som do padre e o som das milhares de cabeças numa perspectiva de horizonte a perder de vista,formam a grande festa!!

De repente um ruído metálico concatenado e constante surge no meio da noite sonora,ainda é quase dia , os chifres cambaleantes dos bois enfileirados e já cansados de onde vieram, penetram nas ruas e como a multidão,eles se unem aos poucos pelas ruas onde passam,eles vieram de várias cidades e mais uma vez atestam o poder da fé pela sintonia coletiva no Divino Pai Eterno!!

Saio correndo do mirante com o tripé e máquina na mão e começo a saga perseguidora e atento aos carros de bois,eles são muitos e surpreendo com os peões de botinas e jeans vermelhos pela terra ,rostos jovens enrugados pelo sol e grandes cajados nas mãos...

Eu estava ali pela primeira vez e resolvi acompanhar todo percurso,me juntei a eles e logo percebi um chifre cheio de óleo caído no chão !! Pronto ,peguei o chifre sujo ,corri mais depressa e entreguei ao dono puxando assunto: De onde estão vindo? De petrolina,responde o puxador com olhar humilde e bondoso ,me dando conforto pra continuar seguindo-os de máquina fotográfica na mão!!!

Quando percebi,estava completamente cercado e imerso naquela atmosfera caipira que me dava gosto experimentar,conversava sem muita resistencia e ali travei diálogos equinos,bovinos,odontológicos ,fotográficos e até concordando no tanto de mulheres gostosas que todos ali ,meio cegos nesse sentido ,conseguiam enxergar!!

Fiquei literalmente sentado,deitado ,de joelhos e até perneta pra conseguir fazer as técnicas fotográficas pra exposição,capturei até a exaustão fazendo fotos grande angulares ,perspectivas,retratos,close-ups e planos de profundidade...

Terminei a saga no carreiródromo,espaço destinados aos carros de boi com uma grande concentração popular numa arena repleta de fiéis ,romeiros ,curiosos e pessoas como eu,que de uma maneira ou de outra, exerce a fé no agradecimento e na certeza de que dias melhores virão!!

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Da nicotina

Uma daquelas segundas onde se acorda querendo mudar o rumo das coisas ,como se precisasse de melhorar em vários aspectos e o tempo do acontecimento gera angustia!!!
Preciso parar de fumar,realmente ando preocupado com meu sentimento de impotência frente a saciedade que o pito me traz...E daí parece macumba ou uma conspiração das forças negras que em vão acham que tem o poder de alterar a energia do titio aqui!! Tenho o corpo blindado minha gente...Aqui só energia boa,já passei da época da insegurança e do medo de gente ruim.Mas voltando ao assunto: passei em três farmácias pra comprar o adesivo de nicotina e NENHUMA tinha o bendito salvador da pátria,ou melhor ,de um futuro câncer de pulmão ...
Esses dias tive um sonho bizarro e acordei rindo do poder e da inteligencia da linguagem do inconsciente. Descobri um caroço na minha bolsa escrotal e eu mesmo fiz a operação,quando incisei meu saco,sabe o que saiu de lá de dentro? Uma carteira de marlboro light box com a foto da impotência virada pra mim...Afe meu Deus,que mensagem inteligente e auto-protetora,só um idiota pra continuar fumando.
Logicamente, não vai ser hoje.Hoje fumarei me despedindo e enquanto a brasa queimar inversamente a vontade de parar aumentará...Me livrarei de vc,seu dia está próximo pra que os meus venham longos e prósperos!!!!
Me desejo força bruta e que eu honre meus culhões!!!

sábado, 27 de junho de 2009

Dia doce

Ainda acordo com você preso no primeiro lampejo de consciência sentindo sua falta e ainda de olhos fechados tentando em vão esfregar os braços na textura acetinada do meu lençol de algodão egípcio azul pastel...os dedos se contraem apertando o lençol dentro da mão ,como se o gesto te colocasse mais próximo de mim... Abro os olhos e o que vejo é apenas o teto,viro pro lado e vejo minhas coisas ainda em cima da cama,uma parafernália que tem me dado muito gosto nesses últimos dias...Minha nikkon,meus cds ( Nara leão,Little Joy,Júnior Boys e Keane ...),meu laptop e as cuecas brancas que comprei anteontem. Me espreguiço lentamente e abro os olhos com você dentro de mim, como se estivesse guardado de uma maneira só nossa . Lisiane entra no quarto e pergunta: vc ainda aqui? Posso arrumar o quarto? Ela não te vê,ela não compartilha e nem imagina o mundo etéreo que existe ali naquela hora dentro da minha mente mirabolante...Eu digo : só um minuto Lisi,logo já levanto...E daí pulo da cama e te deixo adormecido,acendo um cigarro como companheiro e coloco little joy em with strangers onde a melodia nostálgica me devora e eu adoro ficar processando e destilando esse sentimento até te entender,entender esse significado tão surreal ...Abro a janela e avisto o zoológico,agradeço o dia e faço aquele contato com o céu como de costume e vc logo volta cambaleante , sorriso torto e barba por fazer...Os cabelos estrategicamente desgrenhados e eu te guardo novamente,peço pra que fique bem e vibro uma energia tão doce,tão leve e tão intensa...O corpo reage e a testosterona matinal borbulha num frenesi adolescente,corro pro banho quente e me despeço ali pra começar meu dia...
Hoje é quadrilha do Bruninho,fui ao shopping transferir e doar meu instinto paterno pra ele...O dindim já te disse pra parar de pedir tanta coisa, já compramos a calça,o milk shake ,o sorvete e agora ioiô? Não mesmo,chega ! Vamos jogar na loteria que o dindim tá sentindo um dia de sorte...Cruze teus dedinhos e faça duas figas com o pensamento bem forte que é pra gente ganhar...
Fiz um bolão com 112 possibilidades e Bruninho mais dois jogos,descemos pra garagem e voltamos pra casa começar a preparação pro arraiá!!
Pronto Bruninho,pode descer,dindim te ama!!! Com o sol laranja nos cílios longos de Bruninho ele sorri com os dentinhos mistos,me dá um abraço e na inocência mais pura e bela que já vi ,me pergunta com a testa franzida: Dindim ,já posso descruzar os dedos?

Auto bronca

Preciso de arreio !!!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Num domingo provável

Chego junto com as primeiras luzes do dia, olheiras nada discretas, com o frio de lá fora preso nas pontas dos dedos. Entreabro a porta, fazendo anteparo para não deixar muita luz entrar. Tiro a roupa devagar e me enfio debaixo do edredon num esforço quase hercúleo para não te acordar. Só que esqueço do seu sono leve, você desperta a termo de me perguntar: "Como foi seu dia?". "Longo", respondo. E sorrio. Daí você me abraça, encaixa minha cabeça no seu braço, tipo travesseiro. Tão pecado, logo domingo, estarmos acordados às sete da madrugada. E adormeço.
O sono é confuso, afinal, o sono da manhã nunca é tão repousante. Nos flashes que tenho, só reconheço coisas vagas ao longe: às vezes parece bossa nova, às vezes parece qualquer coisa brit-rock. Você não está na cama, presumo pelo vazio grande ao meu lado. Falta energia para sair, então deixo-me ir ficando na preguiça destes dias tão raros de folga. Até que, entre cochilos, sou acordado às lambidas pelo schnauzer mais lindo do mundo. Numa das vezes em que você veio velar meu sono, esquecera a porta aberta. Ainda demoro minutos, espreguiço-me longo pra começar o dia. Ao sair da cama, pego o cachorro de surpresa e murmuro baixinho: "Que seja doce, sete vezes". E levanto.
Atravesso o quarto meio zumbi, cabelo vergonhosamente desgrenhado, chego a sala e você não está. A música permanece, abafada pela porta trancada. Ainda tento girar a maçaneta e você me manda embora, pra não estragar a surpresa. Gosto de surpresas, sorrio. Refaço o caminho, tiro toda roupa numa hesitação monstruosa e entro no chuveiro. Água quente, para dilatar todos os poros. O banho é premeditadamente demorado, fico vigiando a porta na esperança de você entrar. Nada acontece, mas não me aborreço. Troco-me, coloco uma polo branca que gosto tanto, aparo a barba deixando-a estrategicamente desleixada, roubo seu perfume para sair cheirando pimentas pretas. Quando chego a sala, tudo parece cheirar o mar. Da cozinha, cantam sobre o Corcovado, o Redentor, que lindo. A porta está aberta.
Te abraço pela cintura, antes de você perceber minha chegada. Roço a barba devagar naquele canto esquecido perto da orelha: é minha forma silenciosa de te dizer boa tarde. Na panela, ainda borbulhando, são polvos. Reclamo que, pra mim, minha parte predileta nos polvos são aquelas ventosas grudentinhas que ficam na boca e a gente tem que ficar mastigando mastigando tipo chiclete sem gosto e você sorri e me empurra na parede dá dois beijos desliga o fogo quase deixa o prato cair e daí me abraça forte com a mão escapando até minha nuca e me afaga tão ternamente que suspiro porque eu gosto tanto do seu jeito de me adular e daí de repente penso que sou feito de milhares de moléculas e fico com medo de sei lá derreter pelo chão meio Céline meio Jesse tão tonto dessa vertigem que estamos sentindo...

Saio assim desse jeito

Eu sei, é um doce te amar
o amargo é querer-te pra mim
do que eu preciso é lembrar,me ver
antes de te ter e ser teu
o que eu fazia,o que eu queria,o que mais.
que alguma coisa agente tem que amar,mas o quê?
não sei mais!
os dias que eu me vejo só são dias que eu me encontro mais
e mesmo assim eu sei tão bem: existe alguém pra me libertar !!!

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Confissão e desejo número um

Final de semana saciado e sentimento de frágil ou falsa plenitude.Na verdade essa ansiedade da chegada á plenitude e felicidade total,esperando estarmos bem sucedidos,felizes e com muito dinheiro no bolso nada mais é do que uma constante eterna neste orbe terrestre ,denso e cheio de provações!!

Falarei agora do afeto,meu polvo afeto querendo ser UM ,querendo ser a lança certeira embebida de curare apaixonante e amoroso!! Talvez o afeto polvo seja a prévia e sirva como uma das maneiras de se chegar ao estágio LANÇA, logicamente por me fazer experimentar e naturalmente me sintonizar com o mais afim . Isso tá me parecendo leilão e/ ou vestibular sentimental,mas me sinto dessa maneira e não vou me culpar,nem ficar encanado,até pq nada disso é escondido e não engano ninguém!! E também é temporário!!

Há de se frizar que isso não é promiscuidade! O que é promiscuidade?
Promiscuidade é um rodízio frequente e intenso sem afeto? Acho que sim.
Promiscuidade é a enganação seguida de envolvimentos perigosos e sem responsabilidade (principalmente nos cuidados e na prevenção de DSTs ) ? Também acho que sim.

Conceituações a parte, escrevo pelo que sei e digo por mim,mesmo nas minhas escuridões abissais e nas raríssimas vezes do sexo mecânico -urgência da carne- goza logo que quero ir embora, habita pelo menos um sentimento solidário fraterno com a intensidade que o momento exige.

Mas pq estou revelando gratuitamente questões tão íntimas e secretas? Me pego na obrigação de uma auto -explicação no mínimo psicanalítica pra isso.Dentro da instantaneidade do pensamento, pinço de imediato que é da minha vontade , todas as pessoas conseguirem ser coerentes consigo mesmas ...Talvez isso traria mais afeto e menos culpa, deixaria mais leve essa atmosfera mental dolorosa e patológica que envolve nosso planeta, tão castigado pelos lamentáveis tropeços de nós, bichos -homens providos de inteligência e livre arbítrio onde o pagamento das próprias arbitrariedades fica cada vez mais caro , pavoroso e apocalíptico!!!

sábado, 20 de junho de 2009

Expurgo do luto

E já que fiz jus ao nome desse portal com a publicação de Wyslawa,começo de maneira Rodrigueana dramática,escrever sobre tantas coisas que andam habitando minha mente.Acho que nunca tive tantas janelas e tantas gavetas ...Ando hipersensibilizado e paradoxalmente frio e racional.Das mais novas é essa saudade que me tira o eixo ...Aliás,acho que o luto por São Paulo está passando,hoje mesmo acordei e fiz a barba, melhorei a cara e tirei o peso da pele ,me deu a impressão que os olhos levantaram e o viço da cútis retornou de maneira rubra e saudável!! O luto não está ligado a nenhuma pessoa e sim à vontade de morar na desvairada...E por falar em pessoas e São Paulo,preciso deixar o frio na espinha passar completamente e aproveitar a sensação do peito se abrindo com calafrios!!
Pessoa São Paulo, ah se você soubesse da diferença do que é dito e já vivido com o real tamanho,se eu pudesse ficar ao teu lado pra te mostrar,pra te fazer,pra te descobrir ...Ah se eu pudesse...

Nada duas vezes


Nada acontece duas vezes
e nem acontecerá. Por este motivo
nasceremos sem prática
e morreremos sem rotina.

Mesmo que fossemos os mais estúpidos
alunos do mundo na escola,
não vamos repetir
nenhum inverno, nenhum verão.

Nenhum dia se repete,
não há duas noites iguais,
dois beijos do mesmo jeito,
duas mesmas trocas de olhar.

Ontem, que alguém pronunciou
teu nome alto perto de mim,
foi como se uma rosa me tivessem
atirado por uma janela aberta.

Hoje, que estamos juntos,
virei o rosto para a parede.
Rosa? Como é uma rosa?
É uma flor? Talvez uma pedra?

Por que tu, hora ruim,
te confundes com um medo desnecessário?
Se és – então tens de passar.
Se passarás – então será bela.

Sorridentes, abraçados,
tentaremos buscar um acordo,
mesmo que sejamos diferentes
como dois pingos de água limpa.

Wisława Szymborska, Tradução de Tiago Halewicz, Memória Cultural Polonesa.