sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Viagem ao centro da boca

Era um sonho bom,daqueles que agente fica lerdo e manso,daqueles onde agente sente cheiro e a atmosfera é insuportavelmente leve ,diria que muito lúdica até.
De repente ,eu me transformei num ser minúsculo ,beirando a insignificancia da escala das formigas...Eu tinha o disfarce perfeito e logicamente me instalei dentro da tua boca...
Fiquei lá atrás,pendurado na cúspide do seu terceiro molar,como um curioso que espia sua vítima com o prazer dos voyeurs...E logo vc acordou,teu bocejo tinha um cheiro acre e quase me expulsou de lá de dentro,meus cabelos pareciam chicotear e o som grave e preguiçoso que ecoou garganta afora me deixou surdo,tive forças pra me esconder melhor,ali logo atrás do ciso...Me senti seguro e continuei ...Logo vc começou a cantar Nara Leão : Dizia que foi por aí, cantava algo sobre barquinhos e além do horizonte existe um lugar...A escova de dentes entrou como um monstro cabeludo cheio de espuma branca e o som era seco e ensurdecedor,queria sair dali,mas logo tudo ficou fresco ,eucalipto,vento gelado.
De dentro do escuro eu avistava o clarão exterior,enxergava teu espelho e teu rosto no reflexo,estava mais bonito do que quando te conheci...Nessa hora eu torcia pra que vc ficasse mais de boca aberta e sair da frente do espelho me deixou triste...
Quando fui me dando conta da loucura e da invasão que estava cometendo,já era tarde demais...O café quente entrou ,depois era croissant e depois suco de laranja e depois um bochecho daqueles ardidos ...Eu queria sair dali e vc começou a falar e falar e falar...
Vc começou a falar de nós dois sozinho,murmurando de dor e aflição e de como isso te doía,de como o não me ter te causava dor e sentimento de incapacidade.Vc dormiu aquele cochilo da sesta e lentamente eu escalei até conseguir me retirar.Agarrei num pelo do teu bigode e te dei o último beijo .
Nessa hora ,minha pequenez consciente me fez perceber que já tinha ido longe demais,me arriscado demais e feito e esperado coisas que feriam minha dignidade.
Selei minha despedida nessa hora,carimbei com frieza toda grandeza do que gerei por você.
E da tua boca eu ouvi : Que seja doce, que seja doce, que seja doce, que seja doce, que seja doce, que seja doce, que seja doce!!!
E desse sonho,acordei com a minha realidade pronta e percorrida nos teus tão açucares e amargos caminhos...
E agora a lembrança do gosto apenas... Aquele gosto que nunca mais irei sentir...Talvez ,numa tarde fria e depois de um café eu emende um sonho de valsa pra te compor e viajar nas lembranças de um grande amor que não vivi...

Nenhum comentário:

Postar um comentário