E com a saudade morta ,vida curta teria,mas era suficiente pra reviver o sonho dentro da realidade...
Ele estava no exato oposto, trinta metros,linha reta,colado na pick up num movimento cambaleante de sorriso torto e cabelos molhados de tanto dançar.Estava sozinho e do alto dos teus 1,94 eu tinha a certeza que lá de cima ele procurava ...Nossos olhares se cruzaram e se viram sem agente demonstrar que nos vimos e eu continuei no alto do palco,no exato oposto,na direção da lança do cupido ,ali,tremulo,sorriso colocado e uma vontade extraterrena de abraça-lo e dizer as coisas que antes estavam presas pela lucidez.O álcool já havia me levado pro ridículo e removido toda minha resistência...
Foi quando percebi que ele deu a volta na pista e veio de encontro ,arrisquei um tchau fora de compasso pra sinalizar ,ele piscou e abaixou a cabeça numa condolencia gentil,eu retribuí.Agora éramos nós dois no palco,mais ninguém,abraçados e conscientes da nobreza de cada segundo e tudo girava porque nós dois abraçados fomos levados pro extase e ficávamos em silencio lendo a linguagem da ponta dos dedos e dos abraços e das respirações e dos olhares e das expressões de NOSSA-EU -TE-QUERIA-TANTO-SE-NÃO-FOSSE-ESSA-MALDITA-GEOGRAFIA...TANTO...
Enquanto os corpos sem rosto dançavam e se exibiam nas roupas e nos gestos e nas bebidas,já estavamos colados numa simbiose ,osmose sei lá.Ele sentado e eu de pé com os dedos passando pelo teu cabelo e as pernas entrelaçadas e beijos de nirvana...E como mágica no mesmo instante respiramos fundo e em silêncio concordamos : sim,vamos embora agora...Agora? Sim,agora.
Táxi rápido,elevador rápido,fechadura mais ainda,meu quarto,camas de solteiro virando casal,deitados,agressões pra tirarmos a roupa,os pés brigando pra retirar as meias um do outro,as cuecas ,tudo,pronto,nús,ali parados e desaceleramos...
A linguagem soberana da epiderme, a sintonia das almas,a entrega completa do sexo ,os beijos segurando a cabeça do outro com as duas mãos e puxando forte e dizendo da falta ,da saudade,a força,a delicadeza,o ato selvagem,visceral,testosteronico,forte,ritmado ,aceleração pro gozo...
Eu nunca tinha ido pro lugar daquela sensação,era a certeza do amor com a figura da
morte escondida por trás...Dormimos abraçados,molhados,evaporando juntos ...
Já era manhã,antes do banho ele ficou sentado e nos olhamos desgrenhados durante minutos,nos despedindo leves,libertos das dores e conscientes ...A cama vazia,de novo os dedos no lençol querendo prender aquela situação,ficarmos ali,ridículos ,romanticos,alienigenas...
A porta do banheiro se abre,os vapores se invertem e simbolicamente tudo foi lavado.Nos despedimos sem dramas,sem promessas,cada um de volta pros seus mundos distantes , rotinas estupidamente diferentes e aquela sensação de viver um grande amor mesmo que só por uma noite...Mesmo que de novo quem sabe um dia...Mesmo que pra nunca mais...A única certeza somos nós,fomos ou seremos nós.Cambaleantes e trôpegos ,reféns voluntários onde o preço do resgate é a possibilidade do reencontro...
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