quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A segunda metade,o fim e janela vaga...

E com a saudade morta ,vida curta teria,mas era suficiente pra reviver o sonho dentro da realidade...
Ele estava no exato oposto, trinta metros,linha reta,colado na pick up num movimento cambaleante de sorriso torto e cabelos molhados de tanto dançar.Estava sozinho e do alto dos teus 1,94 eu tinha a certeza que lá de cima ele procurava ...Nossos olhares se cruzaram e se viram sem agente demonstrar que nos vimos e eu continuei no alto do palco,no exato oposto,na direção da lança do cupido ,ali,tremulo,sorriso colocado e uma vontade extraterrena de abraça-lo e dizer as coisas que antes estavam presas pela lucidez.O álcool já havia me levado pro ridículo e removido toda minha resistência...
Foi quando percebi que ele deu a volta na pista e veio de encontro ,arrisquei um tchau fora de compasso pra sinalizar ,ele piscou e abaixou a cabeça numa condolencia gentil,eu retribuí.Agora éramos nós dois no palco,mais ninguém,abraçados e conscientes da nobreza de cada segundo e tudo girava porque nós dois abraçados fomos levados pro extase e ficávamos em silencio lendo a linguagem da ponta dos dedos e dos abraços e das respirações e dos olhares e das expressões de NOSSA-EU -TE-QUERIA-TANTO-SE-NÃO-FOSSE-ESSA-MALDITA-GEOGRAFIA...TANTO...
Enquanto os corpos sem rosto dançavam e se exibiam nas roupas e nos gestos e nas bebidas,já estavamos colados numa simbiose ,osmose sei lá.Ele sentado e eu de pé com os dedos passando pelo teu cabelo e as pernas entrelaçadas e beijos de nirvana...E como mágica no mesmo instante respiramos fundo e em silêncio concordamos : sim,vamos embora agora...Agora? Sim,agora.
Táxi rápido,elevador rápido,fechadura mais ainda,meu quarto,camas de solteiro virando casal,deitados,agressões pra tirarmos a roupa,os pés brigando pra retirar as meias um do outro,as cuecas ,tudo,pronto,nús,ali parados e desaceleramos...
A linguagem soberana da epiderme, a sintonia das almas,a entrega completa do sexo ,os beijos segurando a cabeça do outro com as duas mãos e puxando forte e dizendo da falta ,da saudade,a força,a delicadeza,o ato selvagem,visceral,testosteronico,forte,ritmado ,aceleração pro gozo...
Eu nunca tinha ido pro lugar daquela sensação,era a certeza do amor com a figura da
morte escondida por trás...Dormimos abraçados,molhados,evaporando juntos ...
Já era manhã,antes do banho ele ficou sentado e nos olhamos desgrenhados durante minutos,nos despedindo leves,libertos das dores e conscientes ...A cama vazia,de novo os dedos no lençol querendo prender aquela situação,ficarmos ali,ridículos ,romanticos,alienigenas...
A porta do banheiro se abre,os vapores se invertem e simbolicamente tudo foi lavado.Nos despedimos sem dramas,sem promessas,cada um de volta pros seus mundos distantes , rotinas estupidamente diferentes e aquela sensação de viver um grande amor mesmo que só por uma noite...Mesmo que de novo quem sabe um dia...Mesmo que pra nunca mais...A única certeza somos nós,fomos ou seremos nós.Cambaleantes e trôpegos ,reféns voluntários onde o preço do resgate é a possibilidade do reencontro...

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Primeira metade do único dia depois de tanto tempo!

E o amor nos ascende numa atmosfera defensiva e tão deliciosa que já faz parte o melindre,o simulacro,as pernas afastadas,nenhum toque,apenas a minha visão paralela te vendo com olhos de águia e depois vendo a tua como presa-predador não sei.
É um amor inventado ,mantido,guardado no fundo abissal que ora vem pra supeficie como luz: rápido,claro,etéreo e denso ao mesmo tempo.
Mantemos nossos limites e conversamos sobre o que aconteceu nesse tempo em que ficamos longe sem nos preocuparmos com outros corpos ,sexos tortos, caminhos perigosos do mundo .A janela maldita existe e seria mais uma vez tolo e mentiroso se dissesse que não temo isso.
O café termina e descemos pro aniversário de tua amiga- meio -namorada,aquela que você disse tão lindo que a beija vez em quando pra simular ou se livrar dos encostos .Eu crio coragem e chego estrangeiro no baixo meretrício ,me sento à mesa e converso simpaticamente com pessoas opacas protegidas da chuva pelo teto de palha ,ouvidos recebendo mpb desafinada e nós dois na métrica dos olhares .Seu telefone toca e eu saio pro cigarro no espaço recluso como eu.Me despeço,os olhares disseram pelo brilho- congelado que aquela noite seria nossa...E no teu abraço eu fiquei,queria te dizer da falta que sinto,mas os trinta segundos de duraçõa disseram tudo.Ficamos ali na chuva translúcida,coloridos,opacidades ao fundo,verde das plantas e escuridão do céu velando nossas diferentes alturas , nuvens de nicotina ,degraus de cimento,saudade morta!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Vinho e depois saudade

O chocolate amargo é tão maciço quanto o que guardo de você aqui dentro.
O mais ou menos doce também reflete a situação em que te guardei e fui obrigado,pela distancia,te deixar num latente esquecimento surdo e entenda:sonoramente- surdo- presente!
Não consigo deixar de pensar em você quando numa segunda chuvosa e melancólica como essa,sentado em frente ao computador com o vento assobiando e soprando gelado pela janela,saber que ainda te guardo aqui da maneira mais tola e romantica possivel!
Todo mundo anda mudado e eu não sinto o mesmo,ainda me sinto preso nas nossas músicas e naquela segunda iluminada onde debaixo de chuva reservei um quarto de hotel pra te ter trêmulo perto de mim...
A linguagem dos corpos solta e eu te descobrindo pela primeira vez com a certeza do furo temporal histórico velando agente naquela cama minúscula e você 1,94 !!
Ainda te guardo e eu sei que sou ridículo,eu sei que exagero nos adjetivos e na maneira intensa de te querer. Eu sei que nossos caminhos são amplamente e rotineiramente separados,mas não quero e não posso te deixar cair no esquecimento pra depois de oito anos te encontrar e cantar uma valsa plagiando o filme antes do por -do -sol...
Eu me sinto ridículo,RIDÍCULO mil vezes e com aquela sensação de vulnerabilidade pela alma entregue e nua,querendo teu abraço doce nessa noite fria,teu beijo quente e aquela sensação de conforto ,o edredon azul...
O dia amanhecendo frio e eu acordando as sete pra voltar pro hotel,descendo teu elevador com a vizinha esquizofrenica reclamando da vida e das contas...Eu subo a ladeira pra rua Lins e pego o primeiro taxi te levando dentro de mim e compartilhando alguns momentos sonhados como nós dois na aclimação num domingo preguiçoso!
Eu te queria,eu te quero,te queria e sinceramente : me encontro numa atmosfera covarde ,pois a nuvem da realidade separatista é densa e escura,preciso de te enxergar ,cuidar de você ,te ver ácido e ironico,leve e doce,com os cabelos molhados te trazendo pra cama do hotel.Com o frio lá de fora ainda preso na ponta dos teus dedos ...
Eu não sei o que fazer contigo,eu não sei te deixar porque você me pesa e me puxa pra sintonia mental mais refinada que já tive.Te fazer o mais lindo e o mais desejado..
Eu queria tanto
Tanto...
Tanto meu querido e doce..
Meu preguiçoso de sorriso torto e olhos fechados enxergando tudo,tua pele e teu abraço magnetismo...
Os polvos,as Nortenas ,o cinema ,linklater,little joy e Nara
Mas ainda sei
Ainda sinto
Ou será que estou novamente vítima do amor que me escapole ...
Eu não sei ,não sei,ainda é latejante ...
Um beijo do seu

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Expurgo da lamúria

Sem medo de nada,sem medo de me parecer ridículo ou solitário,melancólico ou depressivo ou num desses diagnósticos tabajaras que os leitores de auto ajuda soltam de maneira displicente,apenas pelo prazer em julgar sem propriedade o que acham do outro...As vezes por leviandade,puxar assunto e ter o que dizer,ou maldade ,ou inveja,ou simplesmente uma síndrome equivocada de psicólogo- psicanalista de revista!
A verdade é que ando muito estranho,com um sentimento disforme e sem saber o que é.Na verdade ,no fundo,lá na essencia etérea do sentimento,sinto que é algo bom,minhas nostalgias peculiares que me deixam inquieto.
Hoje a tarde larguei tudo como num surto pra me encapsular,ficar perto de mim e me dar um tempo pra processar esse nó,essa angustia leve,essa inquietação que tem me tirado o poder de realizar tarefas básicas como manter minhas coisas organizadas.
É como se eu tivesse chegado no fim...Não no fim da vida ,mas no fim de uma etapa duma grande construção .Isso tem me causado uma auto relutancia.Sim ,estou só. Sim, acompanhado da minha consciencia intensa e que as vezes me pesa o corpo ,a barba cresce e alimento ela durante uma semana.
Cheguei em casa fugitivo com o sol das quatro esfriando,concatenadamente fui tirando a roupa e abri todas as janelas,acendi um cigarro. Com as pimenteiras aos meus pés e mergulhado nos meus desejos,desejei fugir pra Bahia,morar num vilarejo digno e decente ,viver descalço entre as redes ,a maresia ,as palmeiras e os artesanatos decorando o chão de madeira da sala escura pelo sol que arde do lado de fora,misturado ao branco da areia que cega .Pronto: sou mais uma vítima do cansaço que a vida moderna e suas consequencias nos impõe: estrangulando as horas e nos enchendo de compromissos onde as vinte e quatro horas já não parecem dia e sim pedaços onde sempre fica um pouquinho pro amanhã;uma procrastinação constante e crescente,bola de neve de fogo e de rotinas pesadas...
Mas não quero vomitar apenas lamúrias melancólicas e nem imprimir um tom doentio nas minhas palavras,já me sinto leve e consciente do fardo que carrego...
Vou cantar pra subir,cantar no desafino que me deixa triste ,pois queria tanto gozar minhas dores num palco afetuoso com amigos...Luz baixa,drama,teatro ,olhar profundo e uma música de doer e de sorrir,cantar a vida e as pessoas que amei,cantar o samba,os devaneios,as paixões...Voltar pra casa lerdo e manso,saciado pela coragem e satisfação de cantar .Sinto como se as vezes,algum desses cantores(ou cantoras) do rádio,do baixo meretrício e das paixões platonicas e reais ,ficam irradiando suas vontades no meu campo magnético.Obviamente não sinto como se fosse obssessão ou perseguição espiritual,mas sim uma afinidade,ou talvez alimentando a coragem pra eu fazer uma aulinha de canto nas horas vagas do próximo ano.
Bem,é hora de seguir o bonde,melhor entrar,pegar a direção e eu mesmo trilhar esse caminho sem lugar pra chegar,parar nas estações ,aspirar os ares frescos das paisagens,aproveitar cada geografia ...
E como disse muito bem Dulce Veiga (trecho do livro Onde andará Dulce Veiga,Caio F.) :
''- Diga o que você quiser, faça o que vc quiser. Não diga nada se achar melhor. Minta , não será pecado. Mas se contar tudo, não se esqueça de dizer que sou feliz aqui. Longe de tudo, perto do meu canto."

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Viagem ao centro da boca

Era um sonho bom,daqueles que agente fica lerdo e manso,daqueles onde agente sente cheiro e a atmosfera é insuportavelmente leve ,diria que muito lúdica até.
De repente ,eu me transformei num ser minúsculo ,beirando a insignificancia da escala das formigas...Eu tinha o disfarce perfeito e logicamente me instalei dentro da tua boca...
Fiquei lá atrás,pendurado na cúspide do seu terceiro molar,como um curioso que espia sua vítima com o prazer dos voyeurs...E logo vc acordou,teu bocejo tinha um cheiro acre e quase me expulsou de lá de dentro,meus cabelos pareciam chicotear e o som grave e preguiçoso que ecoou garganta afora me deixou surdo,tive forças pra me esconder melhor,ali logo atrás do ciso...Me senti seguro e continuei ...Logo vc começou a cantar Nara Leão : Dizia que foi por aí, cantava algo sobre barquinhos e além do horizonte existe um lugar...A escova de dentes entrou como um monstro cabeludo cheio de espuma branca e o som era seco e ensurdecedor,queria sair dali,mas logo tudo ficou fresco ,eucalipto,vento gelado.
De dentro do escuro eu avistava o clarão exterior,enxergava teu espelho e teu rosto no reflexo,estava mais bonito do que quando te conheci...Nessa hora eu torcia pra que vc ficasse mais de boca aberta e sair da frente do espelho me deixou triste...
Quando fui me dando conta da loucura e da invasão que estava cometendo,já era tarde demais...O café quente entrou ,depois era croissant e depois suco de laranja e depois um bochecho daqueles ardidos ...Eu queria sair dali e vc começou a falar e falar e falar...
Vc começou a falar de nós dois sozinho,murmurando de dor e aflição e de como isso te doía,de como o não me ter te causava dor e sentimento de incapacidade.Vc dormiu aquele cochilo da sesta e lentamente eu escalei até conseguir me retirar.Agarrei num pelo do teu bigode e te dei o último beijo .
Nessa hora ,minha pequenez consciente me fez perceber que já tinha ido longe demais,me arriscado demais e feito e esperado coisas que feriam minha dignidade.
Selei minha despedida nessa hora,carimbei com frieza toda grandeza do que gerei por você.
E da tua boca eu ouvi : Que seja doce, que seja doce, que seja doce, que seja doce, que seja doce, que seja doce, que seja doce!!!
E desse sonho,acordei com a minha realidade pronta e percorrida nos teus tão açucares e amargos caminhos...
E agora a lembrança do gosto apenas... Aquele gosto que nunca mais irei sentir...Talvez ,numa tarde fria e depois de um café eu emende um sonho de valsa pra te compor e viajar nas lembranças de um grande amor que não vivi...

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O nascimento de Jezebel

Quando sou abatido pela falta de inspiração é como se fosse a falta da locomoção e naturalmente a sensação de não enxergar habita pesadamente.Ontem deitado na cama estava assim,inerte em meio as várias coisas que poderia fazer,assistir ao filme que ensaio colocar no dvd há um mês,ou continuar a ler Caio F.que tem me dado muito gosto,mas estava sim, com o sentimento de paralização pela pausa que meu cérebro-alma resolveu impor.
O soco seco na alma silenciosa começou a me levar pra algum lugar desconhecido e sabia que de repente começaria a pensar em coisas que me fariam experimentar algo novo...Foi quando resolvi utilizar o que tinha no momento.Tinha o teto do quarto ,comecei a olhar parado num torpor efusivo pro ventilador parado. Comecei a perceber que várias coisas habitam o teto do quarto,nossos sonhos e nossos desejos... De repente Jezebel apareceu.
Uma companhia imaginária,Jezebel é uma ornitorrinca falante que me veio como presente do mundo de lá.Sabe quando somos presenteados com um bichinho de estimação e temos que nos virar pra adequá-lo a nossa rotina? Pois é,Jezebel veio assim ,como mais um presente nas minhas construções mentais.O momento foi tão prazeroso que esse bicho habitará minha casa e me fará companheiro dela.Parece loucura,mas tenho prazer em descobrir pelo etéreo coisas que ganham densidade dessa forma.
Jezebel já estava holografada do meu lado e o teto do quarto como uma tela touch screen pra eu escolher o que acessar. Com o foco do olhar acessei perto da janela o assunto -AMIZADE- e me dei conta mais uma vez da importância que isso tem na minha vida.Não falo das construções mesquinhas ,falo do crescimento ganhando corpo,da confiança conquistada e do conforto em poder contar com uma pessoa que a qualquer momento está pronta pra ouvir suas lamentações ou dividir as mais sublimes alegrias.
Pensei em alguns amigos queridos e isso me deu sensação de riqueza, satisfação em perceber o amparo alheio nessa fase de mudança drástica e muitas interrogações que venho passando.
Analisei cada relação com esses afetos e em cada um ,o gosto era diferente;nem melhor nem pior,apenas diferente...É bom também perceber que a diferença entre cada um deles cria um espectro colorido de saciedade e orgulho.
MEUS AMIGOS QUERIDOS, a voces o meu dizer indireto que os amo .Perdoem as chatices e a fase melodramática que descobri não querer sair nunca mais. Jezebel aparecerá sem perceber,darei notícias quando ela se juntar a nós e como um ser falante que é,traduzirei o que ela quiser dizer sem distorções .Acho que o vinho ,o violão,São Paulo,o inglês ,as panquecas,a geriatria, os engates e os Tocatinenses terão acesso fácil .O único problema ainda sou eu,meio sem saber o que fazer com essa ornitorrinca ...Espero que ela já esteja adestrada...

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Ao som de Louis Armstrong - What a wonderful world-

Ainda me lembro da Rua Ipameri ,começava na frente da grande porta da Igreja da Matriz ,onde a atmosfera religiosa fervilhava de segunda a segunda.Carrinhos de pipoca,algodão doce e a meninada do Colégio Santa Clara de camiseta bege e calça verde musgo.Eu sempre saía da missa das crianças dominicais e ia direto pra casa dos meus avós,bastava descer os degraus da entrada e já estava lá,na Rua-Mais -Saudosa -E -Protetora.Eu me lembro: era tanto carinho,eram tantos cheiros ,o portão enferrujado com o longo corredor a frente ,muro molhado onde eu sempre passava a mão e depois olhava pra terra nas pontas dos dedos ,do lado esquerdo a enorme mangueira cuja copa cobria todo o quintal da frente da casa de vovó.A casinha de madeira azul da preta ficava exatamente colada no tronco da mangueira e toda vez que eu entrava ela vinha me lambendo e batendo aquele rabo que soltava os pelos tipicos dos pastores alemães.
Algumas vezes eu evitava abrir o portão baixinho e pulava o muro cheio de lodo e prestava toda atenção do mundo pra não bater com os dentes nas pedras de pirenópolis que antecipava o alpendre retangular cheio de samambaias e chão vermelho batido obssessivamente encerado...
A porta era de vidro caroquento com alguns arabescos soltos e uniformemente distribuídos .Já na sala ,Dona Marta vinha com os dois braços abertos como numa dança pra me abraçar e me apertava sempre forte dando aquela cheirada sonora na nuca pra demonstrar o afeto com mais intensidade.Eu sentia e ainda tenho o cheirinho dela comigo.Meu avô Mané Branco com seus 1,90 de altura,cabelos brancos espetados e olhos azuis quase cinza sempre sentado lendo jornal, o óculos de massa meio caído me esperava ritualisticamente pra recitar seus poemas: "Morena por ser morena tanta graça que tem,que as brancas sentem pena de não ser morena tambem",eu repetia duas ,tres vezes ate acertar e ele me dava mais abraços como premio pelo acerto da rima.No corredor do fundo tinha o André,um papagaio locutor que me deixava encucado porque ele nunca errava os poemas que meu avo recitava...Isso me dava insistencia pra me igualar a ele,imagine um papagaio?
E sempre ,quando abria a geladeira ,as gelatinas coloridas em cubinhos mergulhadas na outra que tinha leite condensado .Todas nas tigelinhas marinex num ambar como cor.O bicho papão morava atrás da cortina da sala .Eu sempre evitava abri-la,mas não tinha medo,era como se eu soubesse que ele não ousaria aparecer pela força e proteção dos meus avós.
Hoje eu quase nao vejo minha avó,me sinto culpado pela renuncia ,sei que ela precisava muito da presença constante e ter o minimo de retribuição ao amor e doação impagável de ternura e cuidado que ela me deu.
Meu avô ,tempos atrás veio me encontrar num sonho realidade vestido com uma camisa de tergal azul ,primeiramente foi o cheiro que me fez o conhecer e depois me disse aquelas coisas que definem o amor,aqueles conselhos e aquelas motivações lúdicas e cheias de sabedoria...
Dessas impressões,fica uma saudade grata e uma consciencia de estar fazendo pouco por ela .E hoje eu reclamei tanto esperando dos outros...