Quando sou abatido pela falta de inspiração é como se fosse a falta da locomoção e naturalmente a sensação de não enxergar habita pesadamente.Ontem deitado na cama estava assim,inerte em meio as várias coisas que poderia fazer,assistir ao filme que ensaio colocar no dvd há um mês,ou continuar a ler Caio F.que tem me dado muito gosto,mas estava sim, com o sentimento de paralização pela pausa que meu cérebro-alma resolveu impor.
O soco seco na alma silenciosa começou a me levar pra algum lugar desconhecido e sabia que de repente começaria a pensar em coisas que me fariam experimentar algo novo...Foi quando resolvi utilizar o que tinha no momento.Tinha o teto do quarto ,comecei a olhar parado num torpor efusivo pro ventilador parado. Comecei a perceber que várias coisas habitam o teto do quarto,nossos sonhos e nossos desejos... De repente Jezebel apareceu.
Uma companhia imaginária,Jezebel é uma ornitorrinca falante que me veio como presente do mundo de lá.Sabe quando somos presenteados com um bichinho de estimação e temos que nos virar pra adequá-lo a nossa rotina? Pois é,Jezebel veio assim ,como mais um presente nas minhas construções mentais.O momento foi tão prazeroso que esse bicho habitará minha casa e me fará companheiro dela.Parece loucura,mas tenho prazer em descobrir pelo etéreo coisas que ganham densidade dessa forma.
Jezebel já estava holografada do meu lado e o teto do quarto como uma tela touch screen pra eu escolher o que acessar. Com o foco do olhar acessei perto da janela o assunto -AMIZADE- e me dei conta mais uma vez da importância que isso tem na minha vida.Não falo das construções mesquinhas ,falo do crescimento ganhando corpo,da confiança conquistada e do conforto em poder contar com uma pessoa que a qualquer momento está pronta pra ouvir suas lamentações ou dividir as mais sublimes alegrias.
Pensei em alguns amigos queridos e isso me deu sensação de riqueza, satisfação em perceber o amparo alheio nessa fase de mudança drástica e muitas interrogações que venho passando.
Analisei cada relação com esses afetos e em cada um ,o gosto era diferente;nem melhor nem pior,apenas diferente...É bom também perceber que a diferença entre cada um deles cria um espectro colorido de saciedade e orgulho.
MEUS AMIGOS QUERIDOS, a voces o meu dizer indireto que os amo .Perdoem as chatices e a fase melodramática que descobri não querer sair nunca mais. Jezebel aparecerá sem perceber,darei notícias quando ela se juntar a nós e como um ser falante que é,traduzirei o que ela quiser dizer sem distorções .Acho que o vinho ,o violão,São Paulo,o inglês ,as panquecas,a geriatria, os engates e os Tocatinenses terão acesso fácil .O único problema ainda sou eu,meio sem saber o que fazer com essa ornitorrinca ...Espero que ela já esteja adestrada...
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
terça-feira, 4 de agosto de 2009
Ao som de Louis Armstrong - What a wonderful world-
Ainda me lembro da Rua Ipameri ,começava na frente da grande porta da Igreja da Matriz ,onde a atmosfera religiosa fervilhava de segunda a segunda.Carrinhos de pipoca,algodão doce e a meninada do Colégio Santa Clara de camiseta bege e calça verde musgo.Eu sempre saía da missa das crianças dominicais e ia direto pra casa dos meus avós,bastava descer os degraus da entrada e já estava lá,na Rua-Mais -Saudosa -E -Protetora.Eu me lembro: era tanto carinho,eram tantos cheiros ,o portão enferrujado com o longo corredor a frente ,muro molhado onde eu sempre passava a mão e depois olhava pra terra nas pontas dos dedos ,do lado esquerdo a enorme mangueira cuja copa cobria todo o quintal da frente da casa de vovó.A casinha de madeira azul da preta ficava exatamente colada no tronco da mangueira e toda vez que eu entrava ela vinha me lambendo e batendo aquele rabo que soltava os pelos tipicos dos pastores alemães.
Algumas vezes eu evitava abrir o portão baixinho e pulava o muro cheio de lodo e prestava toda atenção do mundo pra não bater com os dentes nas pedras de pirenópolis que antecipava o alpendre retangular cheio de samambaias e chão vermelho batido obssessivamente encerado...
A porta era de vidro caroquento com alguns arabescos soltos e uniformemente distribuídos .Já na sala ,Dona Marta vinha com os dois braços abertos como numa dança pra me abraçar e me apertava sempre forte dando aquela cheirada sonora na nuca pra demonstrar o afeto com mais intensidade.Eu sentia e ainda tenho o cheirinho dela comigo.Meu avô Mané Branco com seus 1,90 de altura,cabelos brancos espetados e olhos azuis quase cinza sempre sentado lendo jornal, o óculos de massa meio caído me esperava ritualisticamente pra recitar seus poemas: "Morena por ser morena tanta graça que tem,que as brancas sentem pena de não ser morena tambem",eu repetia duas ,tres vezes ate acertar e ele me dava mais abraços como premio pelo acerto da rima.No corredor do fundo tinha o André,um papagaio locutor que me deixava encucado porque ele nunca errava os poemas que meu avo recitava...Isso me dava insistencia pra me igualar a ele,imagine um papagaio?
E sempre ,quando abria a geladeira ,as gelatinas coloridas em cubinhos mergulhadas na outra que tinha leite condensado .Todas nas tigelinhas marinex num ambar como cor.O bicho papão morava atrás da cortina da sala .Eu sempre evitava abri-la,mas não tinha medo,era como se eu soubesse que ele não ousaria aparecer pela força e proteção dos meus avós.
Hoje eu quase nao vejo minha avó,me sinto culpado pela renuncia ,sei que ela precisava muito da presença constante e ter o minimo de retribuição ao amor e doação impagável de ternura e cuidado que ela me deu.
Meu avô ,tempos atrás veio me encontrar num sonho realidade vestido com uma camisa de tergal azul ,primeiramente foi o cheiro que me fez o conhecer e depois me disse aquelas coisas que definem o amor,aqueles conselhos e aquelas motivações lúdicas e cheias de sabedoria...
Dessas impressões,fica uma saudade grata e uma consciencia de estar fazendo pouco por ela .E hoje eu reclamei tanto esperando dos outros...
Algumas vezes eu evitava abrir o portão baixinho e pulava o muro cheio de lodo e prestava toda atenção do mundo pra não bater com os dentes nas pedras de pirenópolis que antecipava o alpendre retangular cheio de samambaias e chão vermelho batido obssessivamente encerado...
A porta era de vidro caroquento com alguns arabescos soltos e uniformemente distribuídos .Já na sala ,Dona Marta vinha com os dois braços abertos como numa dança pra me abraçar e me apertava sempre forte dando aquela cheirada sonora na nuca pra demonstrar o afeto com mais intensidade.Eu sentia e ainda tenho o cheirinho dela comigo.Meu avô Mané Branco com seus 1,90 de altura,cabelos brancos espetados e olhos azuis quase cinza sempre sentado lendo jornal, o óculos de massa meio caído me esperava ritualisticamente pra recitar seus poemas: "Morena por ser morena tanta graça que tem,que as brancas sentem pena de não ser morena tambem",eu repetia duas ,tres vezes ate acertar e ele me dava mais abraços como premio pelo acerto da rima.No corredor do fundo tinha o André,um papagaio locutor que me deixava encucado porque ele nunca errava os poemas que meu avo recitava...Isso me dava insistencia pra me igualar a ele,imagine um papagaio?
E sempre ,quando abria a geladeira ,as gelatinas coloridas em cubinhos mergulhadas na outra que tinha leite condensado .Todas nas tigelinhas marinex num ambar como cor.O bicho papão morava atrás da cortina da sala .Eu sempre evitava abri-la,mas não tinha medo,era como se eu soubesse que ele não ousaria aparecer pela força e proteção dos meus avós.
Hoje eu quase nao vejo minha avó,me sinto culpado pela renuncia ,sei que ela precisava muito da presença constante e ter o minimo de retribuição ao amor e doação impagável de ternura e cuidado que ela me deu.
Meu avô ,tempos atrás veio me encontrar num sonho realidade vestido com uma camisa de tergal azul ,primeiramente foi o cheiro que me fez o conhecer e depois me disse aquelas coisas que definem o amor,aqueles conselhos e aquelas motivações lúdicas e cheias de sabedoria...
Dessas impressões,fica uma saudade grata e uma consciencia de estar fazendo pouco por ela .E hoje eu reclamei tanto esperando dos outros...
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